Desde o último dia 19 de março, quando o estilista Ronaldo Fraga desfilou sua coleção para o verão de 2014 durante a São Paulo Fashion Week, na capital paulista, tendo como inspiração o futebol de várzea e a cultura negra, e usou palha de aço no lugar do cabelo das modelos, que os cabelos das negras ganharam destaque na mídia.
Racismo ou não, gostei muito,
pois o tema não tem muito destaque na mídia, que só dá chance para mulheres de
cabelos lisos e grandes.
Indelicadamente, Ronaldo colocou na
passarela modelos com os cabelos em formato de bombril e por isso, a discussão
sobre o cabelo das mulheres negras ganhou destaque. Creio que até hoje ele não
deve ter percebido o que fez , uma vez que ele, assim como a maioria dos
brasileiros não conseguem assimilar o que é racismo e o que não é. E por causa
disso, mesmo disfarçado, o racismo ainda é a forma mais clara
de discriminação na sociedade brasileira, apesar de o brasileiro não admitir
seu preconceito.
A escola e a mídia apresentam um modelo branco de valorização. Vivemos em uma
sociedade que dita cultura, valores, tendências e a forma de ver e pensar sobre
o outro que é diferente daquilo que se tem como referência. Há séculos este
pensamento tem a lógica de que o cabelo liso como é o ideal de exemplo à ser
seguido por todas e todos, em detrimento dos cabelos crespos e cacheados. Nesta
concepção, ter cabelo crespos ou cacheados, é sinal de desleixo e sujeira e não
de escolha da pessoa.
Toda mulher negra já escutou a
frase, "seu cabelo é ruim". Mas ruim porquê?
Nos últimos dias tenho vivido quase o drama de encontrar uma
cabeleireira que cuide dos meus cabelos naturais. Quando chego nos salões, me
delicio com a cara de susto delas, desesperada em ter cuidar de cabelos
naturais, sem nenhuma química. Elas não
sabem, não foram treinadas para isso, só aprenderam a relaxar, alisar e
escovar.
Ou seja, as negras vão ao salão
para tentar se tornar um pouco branca, porque a sociedade só a-aceita assim. Mas
não me deixo enganar, meu cabelo vai ficar natural, custe o que custar. Gosto
muito de ver a cara das pessoas, quando chego poderosa, com os meus cabelos
altos, naturais, limpos e cheirosos e lindos. Gosto deles assim, acho maravilhoso.
Ronaldo Fraga é um artista,
inteligente e criativo, uma pessoa a ser respeitada, mas ele não é negro, nunca
deve ter convivido com essa realidade, por isso, errou quando queria apenas
prestar uma homenagem. Por isso, falo e repito, precisamos falar mais sobre o negro
e suas dificuldades de lidar com as suas características no Brasil.
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